Do lótus, o renkon, uma iguaria da culinária asiática

Postado Em: 25/02/2022 - 10:44 | Autor: Assessoria de Comunicação

Produtores de lótus, na região de Guatapará, são assistidos por meio de convênio com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA). O interesse comercial pela planta exótica está nos rizomas, uma iguaria que conquista, cada vez mais, o paladar dos brasileiros. É época de colheita.

Popularmente chamada de raiz de lótus, a parte comestível da planta é, na verdade, um rizoma – uma extensão do caule. Muito popular no costume culinário oriental, o renkon, ou lenkon, tem se tornado mais popular entre outros paladares. Rico em vitamina C e em fibras, que melhoram a função intestinal e ajudam a reduzir os níveis de colesterol, o alimento também fornece ferro e vitamina B6, que são fundamentais para combater anemia. Além de utilizado no preparo de diversos pratos, pode ser consumido como chá.

No Distrito de Mombuca, no município de Guatapará, produtores separam o renkon para comercialização. O produto seguirá para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), maior central de abastecimento de frutas, legumes, verduras, flores, pescados e diversos da América Latina, em São Paulo, capital.

Guatapará faz parte da região metropolitana de Ribeirão Preto, onde o lótus, que é bastante sensível ao frio e às geadas, se adaptou bem. Mombuca é uma colônia japonesa, fundada em 1962, que vive da atividade agrícola.

São seis os produtores de lótus que recebem a assistência técnica do engenheiro agrônomo Julio Yoji Takaki, conveniado à CATI/SAA, por meio de uma parceria entre a Casa da Agricultura e a Prefeitura Municipal de Guatapará. Além do acompanhamento técnico, Julio organiza palestras e oferece apoio na divulgação do produto.


 

Se a visão do campo de flor de lótus evoca um jardim do nirvana − o estado total de paz interior −, é importante saber que tanto o plantio quanto a adubação e a colheita das “batatas”, como são comumente tratados os rizomas, exigem técnica e perseverança, já que todo o trabalho é feito na lama. A água é um fator-chave no cultivo dessa planta flutuante, bastante resistente a pragas, e cuja flor é símbolo do Budismo. Não só pela beleza de suas pétalas brancas ou em tons de rosa, a flor de lótus carrega o significado de renovação e pureza. Suas grandes folhas possuem a capacidade de manterem-se sempre limpas e secas, ainda que sejam plantas lodosas.

E, embora as flores sejam procuradas, em menor escala, para ornamentos e decoração, a movimentação no campo para retirá-las prejudica o renkon em desenvolvimento, conforme explica Mônica Xavier de Macedo, que cultiva o lótus em sua propriedade, o Sítio São Carlos, em Mombuca, já há 12 anos.

O acompanhamento e a orientação técnica que recebem por meio do convênio auxilia a manter a produção saudável e rentável. “Verificam se o solo está adequado, nos orientam sobre a utilização e o manuseio da água”, fala a produtora, sobre a atenção dada pelo técnico Julio.

Mônica e a família comercializam sua produção para a Ceagesp, em São Paulo, semanalmente, e atendem clientes de Campinas e São Paulo. A colheita é feita durante cinco meses ao ano − do final de janeiro até o final de junho e início de julho. Em setembro, é feito o replantio, a partir dos rizomas.


 

A produtora rural, que não é descendente de orientais, mudou-se para a colônia japonesa com a família, aos seis anos de idade. Hoje, aos 46, tem já adquirido o gosto pela cultura milenar, do plantio à mesa. Em sua casa, o renkon é preparado em bolinhos, em conserva e refogado com molho de soja.

“Aprendemos a mexer um pouco com uma coisa, um pouco com outra. Experimentei, gostei e fiquei”, conta a agricultora, e afirma que pretende continuar a plantar e vender renkon, uma atividade compensatória financeiramente, já que o valor de venda da iguaria é considerado atrativo para os produtores. “É um cultivo de que gosto muito”, comenta.

“O próximo passo é fazer com que os produtores trabalhem com agregação de valor. Como o período de colheita ocorre durante março a julho, nos demais meses, a venda não é trabalhada. Desidratar o renkon e embalar, ou vendê-lo em forma de conserva, pode permitir a ampliação da renda”, explica Julio.

“Na culinária oriental, o renkon é muito utilizado em pratos típicos para passagem de ano - justamente uma época em que não há colheita. No entanto novas formas de conservação para a venda do alimento podem significar uma boa oportunidade de mercado para os produtores”, encerra.

 

Texto: Bárbara Beraquet

Fotos gentilmente cedidas por Julio Takaki